*militar;
rev. 1924; rev. 1930; interv. RN 1931-1932; pres. ANL.
Herculino
Cascardo nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, no dia 2 de janeiro
de 1900, filho de Isodoro Cascardo e de Querubina Molinário. Seu pai,
comerciante de origem italiana, era adepto de ideias socialistas
Ingressou
na Escola Naval do Rio de Janeiro em maio de 1915, passando a guarda-marinha em
fevereiro de 1918 e a segundo-tenente em novembro do mesmo ano. Depois de
servir no cruzador Barroso, no navio-escola Benjamim Constant e nos
contratorpedeiros Pará e Paraíba,foi lotado em julho de 1921 no couraçado São
Paulo. Promovido a primeiro-tenente em março de 1922, servia ainda no São Paulo
quando, em julho do mesmo ano, o couraçado bombardeou o forte de Copacabana, no
Rio, ocupado por oficiais e soldados insurretos. A revolta, que terminou com a
marcha do grupo conhecido como os 18 do Forte de encontro a forças legalistas,
iniciou o ciclo de levantes tenentistas da década de 1920.
DE1924 A1930
Chefe da
seção de tiro do São Paulo, o tenente Cascardo participou, em novembro de 1924,
da sublevação da guarnição do couraçado. Ante a decisão de não aderir tomada
pelos oficiais mais graduados, os quais se recusaram a combater o governo federal,
Cascardo ficou sendo o oficial de mais alta patente a bordo e assumiu o comando
da embarcação. Ordenou a prisão de parte da guarnição que não havia aderido ao
levante, e em seguida o São Paulo, acompanhado do torpedeiro Goiás, também
amotinado, rumou para fora da baía de Guanabara. A reboque, os navios em poder
dos rebeldes traziam dois hidroaviões, que entretanto foram afundados pelo fogo
da artilharia da costa. O Goiás,atingido, rendeu-se, mas o São Paulo conseguiu
rumar para o Sul, com uma guarnição composta de cerca de seiscentos homens e
apenas sete oficiais — Cascardo e mais seis segundos-tenentes. A intenção dos
revoltosos era juntar-se às forças, militares e “provisórias”, que se haviam
insurgido em outubro no Rio Grande do Sul. Entretanto, as condições climáticas
não permitiram que aportassem no litoral gaúcho, e ante a escassez de víveres a
bordo seguiram viagem até Montevidéu, onde entregaram o navio às autoridades
uruguaias, as quais o devolveram sem demora ao governo brasileiro
No
Uruguai, os rebeldes entraram em contato com líderes revoltosos gaúchos.
Cascardo e os oficiais que o acompanhavam juntaram-se ao grupo de Júlio de
Barros, participando de um combate na localidade uruguaia de Galpones, próxima
à fronteira com o Brasil, no dia 11 de dezembro de 1924. Foram derrotados por
um destacamento das tropas legalistas, que logo assumiram o controle da
situação no Rio Grande do Sul. Permaneceram rebeladas apenas as forças que
constituíram a coluna comandada pelo capitão Luís Carlos Prestes, a qual rumou
para o Paraná. Lá, em abril de 1925, o grupo reuniu-se aos paulistas que se
haviam levantado em julho do ano anterior, formando a Coluna Miguel
Costa-Prestes. Cascardo, que deixara a luta após a derrota sofrida em Galpones,
exilou-se na cidade uruguaia de Rivera, onde desenvolveu bem-sucedida atividade
de comerciante. Mantinha-se entretanto em contato com os grupos oposicionistas
ativos na região da fronteira, e em 1926 aderiu à Coluna Relâmpago, revolta
deflagrada numa unidade do Exército em Cruz
Alta
(RS), sob a liderança dos irmãos Alcides e Nélson Etchegoyen, com a finalidade
de impedir a posse do presidente eleito Washington Luís. Todavia, o movimento
não recebeu adesões e, isolado, foi vencido em um dia.Em abril de 1927,
Cascardo foi formalmente expulso da Marinha e condenado a 11 anos e oito meses
de prisão por sua participação no levante do
São
Paulo. Ainda assim, retornou clandestinamente ao Rio Grande do Sul a tempo de
participar das primeiras articulações da
conspiração
contra Washington Luís, que resultaria na Revolução de 1930. Junto com Osvaldo
Aranha, Miguel Costa, João Alberto Lins de Barros, Augusto do Amaral Peixoto —
seu companheiro na insurreição do São Paulo— e outros, Cascardo integrou o
comando revolucionário do Sul, chefiado por Pedro Aurélio de Góis Monteiro,
colaborando também na decifração de mensagens em código trocadas pelas forças
governistas.
O movimento foi deflagrado no dia
3 de outubro nos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, onde
obteve as primeiras vitórias. Cascardo permaneceu no Rio Grande, e se
encontrava nos aposentos de Góis Monteiro quando este recebeu a notícia da
rendição do 7º Batalhão de Caçadores, última unidade do estado fiel ao governo
federal. No dia 24 de outubro, Washington Luís foi deposto do Rio de Janeiro,
consolidando a vitória da revolução. Cinco dias depois, Cascardo chegou à
capital federal acompanhando Osvaldo Aranha e Lindolfo Collor. Foram
recepcionados por uma multidão entusiástica e receberam os votos de boas-vindas
do general Pantaleão Teles Ferreira, representante da junta militar ue
assumiria o poder. No dia 3 de novembro, Getúlio Vargas, investido do título de
chefe supremo da revolução, foi empossado na chefia do governo provisório da
República.
DURANTE O GOVERNO PROVISÓRIO (1930-1934)
Beneficiado
pela anistia decretada em novembro e promovido a capitão-tenente, Herculino
Cascardo ligou-se a Virgílio de Melo Franco, JoãoAlberto, Juraci Magalhães,
Cristóvão Barcelos e outros líderes revolucionários que pretendiam criar um
órgão que coordenasse a ação política dos diversos grupos tenentistas. Em maio
de 1931, como resultado desse esforço, foi fundado o Clube 3 de Outubro,
concebido como embrião de um partido político. Eleito segundo vice-presidente
da primeira diretoria do clube, Cascardo exerceu também, entre janeiro e junho
de 1931, as funções de oficial de gabinete do ministro da Marinha, almirante
Conrado Heck.
Em 11 de
julho de 1931, por indicação do Clube 3 de Outubro e por influência de Juarez
Távora, principal autoridade revolucionária nas regiões Norte e Nordeste do
país, a ponto de ficar conhecido na época como “o vice-rei do Norte”, Cascardo
foi nomeado interventor federal no Rio Grande do Norte. Sua administração
caracterizou-se pela atenção que dedicou ao emprego do dinheiro público. Criou,
por exemplo, a taxa-aluguel de 10% sobre os vencimentos dos funcionários do
estado que residissem em imóveis de propriedade pública. Ele mesmo pagava um
aluguel pelo uso da Vila Cincinato, residência oficial do chefe do governo
estadual. Em 5 de fevereiro de 1932, pediu exoneração do cargo para acompanhar,
no Rio, o tratamento de seu filho menor, que sofrera um acidente e estava
desenganado. Foi substituído na interventoria pelo capitão-tenente Bertino
Dutra da Silva, igualmente oficial da Marinha.
No Rio,
Cascardo participou, no início de julho de 1932, da I Convenção Nacional do
Clube 3 de Outubro. Foi eleito para a comissão executiva provisória da
agremiação, encarregada dos trabalhos preliminares de instalação de seu
conselho nacional e de elaborar as teses que seriam apresentadas ao I Congresso
Revolucionário, marcado para novembro. Em seguida, com a deflagração da
Revolução Constitucionalista em 9 de julho, foi designado oficial de ligação
entre os estados-maiores da Marinha e do Exército, e participou do combate aos
rebeldes em Resende (RJ), Guaratinguetá (SP) e outras regiões de São Paulo. Em
outubro, os paulistas capitularam, encerrando-se o movimento.
Iniciaram-se logo depois as discussões
preparatórias para o Congresso Revolucionário.
Durante
esses encontros acentuaram-se as divergências políticas e ideológicas entre as
diversas correntes representadas, e o esultado foi o fortalecimento da ala
socialista e o afastamento dos representantes da Ação Integralista Brasileira
(AIB), organização de inspiração fascista fundada pouco antes pelo escritor
paulista Plínio Salgado. O Congresso Revolucionário se realizou em novembro, e
nele foi deliberada a criação do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e sugerida
uma moção — que não foi aprovada —, considerando essa agremiação o polo
aglutinador da ideologia revolucionária.
Em
fevereiro de 1933, porém, Cascardo desligou-se do Clube 3 de Outubro. Junto à
carta que escreveu a Osvaldo Aranha comunicando o fato, enviou cópia do
documento que remetera ao conselho nacional da agremiação expondo os motivos de
sua demissão do núcleo do Rio Grande do Norte. Afirmava que o programa da
entidade não vinha sendo cumprido devido à traição de líderes políticos que
procuravam a conciliação com “juristas reacionários”, protelando o debate sobre
as principais reformas propostas para o país, como a organização sindical e a
intervenção do Estado nos campos social e econômico. Lembrando que, na opinião
do próprio clube, tais reformas só se poderiam efetivar sob um regime
ditatorial, afirmava que após a vitória alcançada pelo governo provisório sobre
a Revolução Constitucionalista (“que se opunha à marcha do socialismo”)
impunha-se a adoção de um projeto constitucional capaz de garantir a aplicação
dos princípios que haviam regido a Revolução de 1930. Destacando o esforço
desenvolvido nesse processo por “nossas massas trabalhadoras”, concluía seu
pedido de desligamento reafirmando sua “fé no advento do socialismo”.
Em maio de 1933, o capitão-tenente
Cascardo foi dispensado da função de ligação entre os estados-maiores da
Marinha e do Exército e se matriculou no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais
em Submarinos e Armas Submarinas. Um ano mais tarde (maio de 1934), iniciou
curso de especialização sobre o tema na Inglaterra, onde permaneceu até janeiro
de 1935. Nesse período, sondou junto à embaixada da União Soviética em Londres
a possibilidade de reatamento das relações diplomáticas e comerciais entre esse
país e o Brasil, que as havia rompido em 1917. Em agosto de 1934, enviou carta
ao presidente Getúlio Vargas prestando contas dessa missão. Aproveitou para
registrar sua tristeza ao ver o presidente “definitivamente perdido para a
causa que defendíamos”, numa alusão à solução do impasse institucional do país
através da nova Constituição, promulgada um mês antes. Criticava também “a
organização do ministério e a volta à política dos grandes estados”
NA ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA
Em
outubro de 1934, Francisco Mangabeira, Benjamim Soares Cabello, João Cabanas,
Roberto Sisson e outros iniciaram a articulação de uma “frente popular” que,
baseada na mobilização de massas, combates se a expansão do fascismo no Brasil
— representado pela AIB —, o imperialismo e o latifúndio. Com o crescimento do
grupo, as reuniões foram transferidas para a sede do PSB. Integrante da direção
desse partido, Cascardo aderiu à articulação que, pouco depois, deu origem à
Aliança Nacional
Libertadora
(ANL). Assinou a ata de fundação da ANL em 23 de março de 1935, ao lado de
Abguar Bastos, Roberto Sisson, rifino Correia, Henrique Cordeiro Oest,
Francisco Moésia Rolim e outros, passando a compor a comissão provisória de
organização. Na semana seguinte, foi eleito presidente da ANL durante ato
solene realizado no Distrito Federal, e afirmou em seu discurso que o programa
da organização não feria a Constituição e poderia ser cumprido dentro da
legalidade. A vice-presidência da ANL foi entregue a Carlos Amoreti Osório e a
secretaria coube a Francisco Mangabeira.
Durante a
solenidade, contra o desejo de Cascardo e de muitos outros aliancistas, o
estudante Carlos Lacerda lançou o nome do dirigente comunista Luís Carlos
Prestes — então no exílio — para a presidência de honra da ANL, provocando
entusiástica aclamação da platéia que, assim, referendou a proposta . Pouco
depois, Prestes escreveu a Cascardo comunicando seu ingresso formal na ANL e
afirmando que a aclamação de seu nome nos comícios do movimento expressava a
grande influência que o então denominado Partido Comunista do Brasil (PCB)
exercia no seu interior. Além do PCB e do PSB, a ANL recebeu adesão de outros
partidos, numerosos sindicatos de trabalhadores, organizações juvenis e
femininas, e experimentou rápido crescimento em todo o país. Seus líderes
viajaram para diversos estados divulgando seu programa, recebendo inscrições e
organizando o movimento, cabendo a Cascardo, entre outros, percorrer Minas
Gerais e São Paulo, onde a ANL formou núcleos em alguns quartéis.
O lançamento da ANL foi seguido
de um período de radicalização política. No dia 4 de abril, foi sancionada a
primeira Lei de Segurança Nacional da história do país, dando cobertura legal à
prisão de oposicionista e às frequentes intervenções policiais que passaram a
ocorrer em manifestações aliancistas, e permitindo ainda a apreensão, no dia 21
de abril, do jornal A Pátria, impático à ANL. Além disso, crescia o número de
conflitos de rua entre militantes aliancistas e integralistas.
Nesse
contexto, a ANL programou manifestações públicas em todo o país para o dia 5 de
julho de 1935, em comemoração aos levantes tenentistas de 1922 e 1924. Durante
os preparativos, Cascardo foi prevenido de que alguns companheiros seus
pretendiam ler, no ato do Distrito Federal, um manifesto redigido
por
Prestes, o que fez com que se recusasse a comparecer à reunião realizada para
deliberar sobre a manifestação. Embora a maioria dos integrantes do diretório
nacional da ANL compartilhasse da posição de Cascardo, contrária à divulgação
do manifesto, este foi lançado em nome da agremiação no dia 5 de
julho,
conclamando, em tom insurrecional, à luta pelo poder. O episódio expressou o
aumento da influência que o PCB exercia no interior do movimento aliancista.
Em 11 de
julho, o governo decretou o fechamento da ANL, a qual, segundo o chefe de
polícia do Distrito Federal, Filinto Müller, mantinha relações com governos e
entidades estrangeiras. Entretanto, no dia seguinte os dirigentes aliancistas
afirmaram sua disposição de continuar normalmente com as atividades do
movimento, e Cascardo chegou a declarar ao jornal A Manhã que desconhecia a
medida oficial. Nessa entrevista, acusou Filinto Müller de “difamar a reputação
de milhões de brasileiros dedicados de corpo e alma à libertação de sua
pátria”, negou enfaticamente as acusações formuladas e ameaçou levar o
chefe de
polícia aos tribunais.
O
fechamento da ANL já era, contudo, um fato consumado. Às 12 horas do dia 13 de julho,
a polícia lacrou sua sede central, situada no Distrito Federal, e apreendeu os
boletins, cartazes e retrato de Prestes que ali se encontravam. Em seguida
foram fechadas também as outras sedes de núcleos e da União Feminina do Brasil.
A INSURREIÇÃO DE 1935
No dia 27
de julho Cascardo embarcou no navio Afonso Pena
para São
Francisco do Sul (SC), onde assumiu a delegacia local da Capitania dos Portos e
prosseguiu no trabalho de organização da ANL, deixando o deputado Otávio da
Silveira em seu lugar na
presidência
do movimento. Essa transferência evitou a realização de um duelo entre Cascardo
e o redator-chefe do jornal O Globo,
Roberto
Marinho, desafiado em virtude de Roberto Marinho, desafiado em virtude de comentários
considerados ofensivos à ANL e seus membros comentários considerados
ofensivos à ANL e seus membros.
Pressionados
pelo fechamento da ANL e entendendo que as condições gerais do país eram favoráveis,
os comunistas passaram a defender e preparar a deflagração de um levante armado
para derrubar o governo de Getúlio Vargas. Cascardo e outros líderes
aliancistas contrários a ações dessa natureza foram mantidos à margem dos
preparativos, que resultaram na eclosão, no dia 23 de novembro, de uma insurreição
em Natal, inicialmente vitoriosa. Nem mesmo o principal dirigente comunista no
Nordeste, Cristiano Cordeiro, estava inteirado dessa iniciativa. No dia 24,
Cascardo
foi desligado de suas funções no Sul e retornou ao Rio de Janeiro.
Os insurretos
detiveram o poder em Natal por apenas quatro dias. Em Recife, houve luta nos
dias 24 e 25 de novembro, resultando em nova derrota dos rebeldes, enquanto no Distrito
Federal o 3º Regimento de Infantaria e a Escola de Aviação Militar se
sublevaram no dia 27, mas foram subjugados em poucas horas. Seguiu-se a esses
fatos uma violenta onda de repressão em todo o país, com a prisão de milhares
de oposicionistas de todos os matizes políticos. Entre eles estava Cascardo,
que em seu depoimento à polícia do Distrito Federal procurou eximir-se, e à
ANL, de
quaisquer responsabilidades pelo levante. Contra ele, entretanto, pesavam
acusações de ter participado de movimentos operários em Santa Catarina e de ter
promovido a inscrição na ANL da maior parte dos estivadores da região onde
trabalhava, estendendo sua ação aos trabalhadores da Estrada de Ferro São
Paulo-Rio Grande. Segundo a polícia, Cascardo teria sido o autor da tabela de
salário reivindicada inicialmente pelos estivadores de São Francisco do Sul e
assumida depois pelos trabalhadores na estiva dos portos de Antonina e
Paranaguá, no Paraná, que haviam feito greve. Também nesse caso, Cascardo
alegava inocência. Em dezembro de 1935, ainda detido, escreveu a Augusto Amaral
Peixoto, seu companheiro na sublevação do
São Paulo
e na Revolução de 1930, afirmando que a hegemonia do PCB no interior da ANL só
tinha sido possível em virtude da ação do governo e da polícia, que haviam empurrado
o movimento para a clandestinidade. Em abril de 1936, Cascardo foi novamente
desligado da Marinha por existirem, segundo as autoridades militares, “elementos
de convicção e provas colhidas pela polícia por exercício de atividades subversivas
das instituições políticas e sociais”.
Junto com Sócrates Gonçalves,
Benjamim Cabello e outros, Cascardo integrou o grupo depresos da Casa de Correção, no
Rio de Janeiro, que se recusou a ser sumariado pelo Tribunal de Segurança
Nacional, criado em setembro de 1936 para julgar os acusados do levante
aliancista e considerado pelos réus inconstitucional. Condenado em primeira
instância
a dez meses e 15 dias de reclusão, Cascardo teve sua pena confirmada pelo Supremo
— hoje Superior — Tribunal Militar em setembro de 1937, sendo libertado em virtude
de já ter cumprido tempo superior de prisão.
Novamente
em liberdade, Cascardo dedicou-se ao comércio e atuou na imprensa, particularmente
na revista Diretrizes.
Depois do
golpe militar que em 10 de novembro de 1937 implantou o Estado Novo, telegrafou
a Vargas expressando sua solidariedade e a convicção de que a Revolução de 1930
havia re
tomado
“seu curso glorioso”. No período seguinte, trabalhou na Fundação Brasil Central
e no Serviço Especial de Migração de
Trabalhadores
para a Amazônia (SEMTA), órgãos estatais dirigidos por seu amigo João Alberto
Lins de Barros. Na primeira dessas entidades, participou da instalação de uma usina
de açúcar em Rio Verde (GO); no SEMTA, atuou na chamada “Batalha da Borracha”, campanha
pelo aumento da produção do produto desencadeada durante a Segunda Guerra Mundial.
Cascardo
foi beneficiado pela anistia decretada por Vargas em abril de 1945, o que permitiu
sua readmissão nos quadros da Marinha. Nessa época, o Estado Novo já apresentava
sinais visíveis de enfraquecimento e a vida política nacional ganhava nova dinâmica.
Ainda em abril, Cascardo participou do congresso de fundação da União Democrática
Nacional (UDN), partido político organizado por oposicionistas de diversas tendências
que pretendiam concorrer às eleições marcadas para dezembro. Após a apresentação
do programa udenista, contudo, Cascardo e outros elementos de orientação socialista
assumiram posição dissidente, reclamando um programa de “espírito social” mais acentuado,
capaz de alargar as conquistas do getulismo nesse campo e livrar a organização de
alguns “ranços conservadores”.
A ala
socialista da UDN teve importante participação na formação da Esquerda Democrática,
corrente política organizada em junho de 1945 que apoiou o candidato udenista
às eleições residenciais, brigadeiro Eduardo Gomes. Cascardo integrou a comissão
provisória dessa corrente, junto com João Mangabeira, Hermes Lima, Aparício Torelly,
Guilherme de Figueiredo, Filipe Moreira Lima e outros. Em 25 de agosto de 1947 a
Esquerda Democrática realizou sua segunda convenção nacional, que deu origem ao
novo Partido Socialista Brasileiro, no qual Cascardo militou até sua plena
reintegração na Marinha, quando optou pelo prosseguimento desua carreira
militar. Exerceu diversas comissões na Marinha até 1954, quando, com a morte de
Getúlio Vargas, se transferiu para a reserva no posto de almirante de esquadra.
Passou então a dedicar-se ao cultivo de uvas
no
município de Teresópolis (RJ).
Faleceu
no Rio de Janeiro em 26 de fevereiro de 1967.
Foi
casado com ETELVINA RITA PEREIRA CASCARDO.
Escreveu Notas
históricas sobre a guerra anti-submarina (1951). Renato Lemos
FONTES:
ARQ.
CLUBE 3 DE OUTUBRO; ARQ. OSVALDO ARANHA; CARNEIRO, G. História; CASCUDO, L. História;
COUTINHO, L. General; DULLES, J. Getúlio; FONTOURA, J. Memórias; Grande encic.
Delta;LEVINE, R. Vargas; NABUCO, C. Vida; NOGUEIRA FILHO, P. Ideais;
PEIXOTO,
A. Getúlio; POPPINO, R. Federal; PORTO, E. Insurreição; SERV. DOC. GER. MARINHA;
SILVA, H. 1922; SILVA, H. 1926; SILVA, H. 1930; SILVA, H. 1935; SILVA, H. 1937;SILVA,
H. 1945; TAVARES, J. Radicalização TÁVORA, J. Vida.